Para re-pensar o trabalho

Trabalho é uma ideia que mobiliza muitos significados. A palavra trabalho tem origem no latim tripalium, que designava um instrumento de tortura composto por três paus ou varas cruzadas, utilizado para imobilizar e castigar indivíduos. Com o tempo, o termo passou a ser utilizado para denotar qualquer atividade que envolva esforço ou fadiga, evoluindo para o significado que lhe atribuímos hoje. Atualmente, o dicionário aponta sua definição como o conjunto de atividades que o homem exerce para atingir um determinado fim. Ao mesmo tempo, na física, o conceito de trabalho é simbolizado pela letra W e significa a transferência de energia de um corpo para outro, provocando seu deslocamento. Na sociedade, o significado do trabalho se adapta aos dilemas e desafios dos nossos tempos, podendo produzir ideias que co-existem, lado a lado, entre sobrecarregados e desempregados. 


Até pouco tempo atrás, vivemos a ideia do trabalho como a fonte do propósito da nossa existência. O "trabalhar com o que ama para não precisar mais trabalhar” foi um mantra disseminado entre os millenials até a grande desilusão da pandemia, em que muitos experienciaram o “não conseguir amar mais nada” através das limitações e frustrações atreladas a ausência das trocas entre reuniões regadas por aquele tradicional cafezinho. O ato de trabalhar em busca de um propósito pra existência também vem embalado pela intensidade dos tempos em que vivemos, quando apenas correr muitas vezes é interpretado como uma forma de realizar algo ou de manifestar um marcador identitário do trabalhador ocupado – sempre conectado a tudo e todos, sem tempo, mas muitas vezes vazio. 


Talvez algum outro ser nos observando de longe sugeriria como lógica a possibilidade de… quem sabe trabalhar menos? Só que a sugestão do capitalismo é outra: administrar o sofrimento. Espaços de soneca no escritório, yoga na hora do almoço, terapia financiada pelo chefe, fazer o que for necessário para não reduzir a intensidade. E é claro que essa maratona sem fim vem bem nutrida pelas tão amadas e criticadas redes sociais, que estimulam esse ritmo acelerado ao penalizar o silêncio com o desaparecimento – quem não posta (e muito), some. Se há décadas sabemos que quem não é visto, não é lembrado, hoje podemos nos perguntar se ainda existe aquele que não tem conta no Instagram.


O mundo sempre esteve pra acabar então, como sempre, são muitas dúvidas e problemas imensos em torno desse assunto, e eu imagino que para você (assim como pra mim), parar de trabalhar para fugir dessa confusão não parece ser uma alternativa viável perante aos nossos boletos. Mas talvez abrir espaço para outros significantes, como a arte, a cultura, a leitura, a música, podem representar uma forma de refletir sobre o tamanho que queremos dar pro trabalho na nossa vida. E é pra ter a oportunidade de nos aprofundarmos nessa reflexão que criamos essa newsletter. Ao invés de incansavelmente tentar encontrar o nosso propósito no trabalho, propomos a retomada da nossa agência para decidir qual o propósito que queremos dar ao trabalho. Aos que não nasceram herdeiros e vão precisar trabalhar, que seja com clareza de pra quê viemos. 


Seja bem-vindos à Ócios do Ofício, uma produção da Labuta Labs para repensar porque e como trabalhamos. 


Fontes e recomendações: 

Han, Byung-Chul. 2021. Sociedade do cansaço. Editora Vozes.

Helerbrock, Rafael. 2025. “Trabalho de Uma Força.” Brasil Escola. 23 de março de 2025. https://brasilescola.uol.com.br/fisica/trabalho-uma-forca.htm.

Alves, André, and Lucas Liedke. n.d. “Sentidos Do Trabalho.” Vibes Em Análise. https://open.spotify.com/episode/1W61gZsZarSdPMqrgehzFi?si=99a29215096e4188.

Veschi, Benjamin. 2019. “Etimologia de Trabalho.” Etimologia - Origem Do Conceito. 2019. https://etimologia.com.br/trabalho/.